quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

...pensamento do dia...


Os fracos pensam que são fortes, querem ser fortes, mas isso é uma miragem. Os fracos rodeiam-se de pessoas que consideram ser inferiores a si para serem bajulados, admirados e sentirem que naquele meio são fortes. Os fracos temem as pessoas intelectualmente superiores porque não têm capacidade de argumentação para as mesmas. Os fracos escolhem tudo o que exteriormente lhes pode ser admirado e invejado por alguém, para sentirem que de alguma forte detêm o controlo. Os fracos inventam-se e reinventam-se em histórias que não são suas, porque deles não reza a história.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

...pensamento do dia...

Para todos os "naufragos" que conheço, para todos os que se afundam devagar, sem dar conta, mas que espero que consigam vir à tona, que consigam voltar a ver a luz do sol, o brilho das estrelas, a luz interior, que afinal nunca os abandonou...



No cenário da tua vida
Aclamas noites alucinantes
De gentes estonteantes
Que são tanto como tu

No teatro do teu olhar
Há quem note que a coragem
Não passa de uma miragem
Com preguiça de gritar

No repetir do teu mostrar
Inventas-te uma história
Que em ti não há memória
Porque sabes que não é tua...

Houve alguém que te conheceu
Que te faz tremer ao passar
Porque nunca a deixaste de amar...

Continuas a ensaiar
A conveniência do sorriso
O planear do improviso
Que te faz sentir maior

No artifício dos teus gestos
Pensas abraçar o mundo
Quando nem por um segundo
Te abraças a ti mesmo

E assim vais vivendo
E assim andando aí
E assim perdendo em ti
Tudo aquilo que nunca foste...

Por alguém que te conheceu
Que te faz tremer ao passar
Porque nunca a deixaste de amar

Quando um dia acordares
Numa noite sem mentira
E te vires onde não estás
Vais querer voltar para trás.

Houve alguém que te conheceu
Que te faz tremer ao passar
Porque nunca a deixaste de amar

"Adormecido", Toranja

sábado, 9 de janeiro de 2010

...pensamento do dia...


Gostava tanto de poder agradecer-te algumas coisas.

Agradecer-te por, por breves instantes e por tua causa, ter perdido: tempo, a minha auto-estima, amor-próprio, vontade de viver, inteligência, beleza, os meus sonhos e outros afins.

Agradecer-te por me teres feito perder tudo o que acima descrevi, mais os afins, por breves instantes e só por breves instantes.

Agradecer-te por teres sido o causador de ter perdido coisas tão importantes. Se não as tivesse perdido, por breves instantes, não saberia o que era ganhar tudo o que tenho hoje.

Hoje, tenho um ego maior que eu, amo a mulher que sou, quero viver até não poder mais, sou mais inteligente do que era antes, estou mais bonita que nunca, persigo os meus sonhos e outros afins.

Perguntas sem resposta (3)

Sentada no alpendre a fumar um cigarro pensava nos últimos anos da sua vida. Olhava o mar à espera de uma resposta concreta mas só conseguia ouvir o som das ondas a bater na areia. Tinha percorrido o mundo inteiro para fugir aquele amor que ainda a queimava por dentro. Na altura pensou que o dinheiro a iria compensar do amor perdido e andou enganada uma vida. Agora estava a morrer, tinha só alguns meses de vida e não encontrava nada nem algo nas suas recordações que a fizesse sentir realizada, completa, feliz. Nada a não ser aquele amor que nunca tinha conseguido arrancar da alma, da pele, de todo o corpo.

Sabia que este dia iria chegar. Sonhou com ele todas as noites, em todos os lugares em que passou, em todas as camas onde tentou descansar e fechar os olhos e esquecer, em todos os braços que tentaram dar-lhe calor. Sabia que o destino o traria de volta para si. Mas agora já é tarde. Ou será que não?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Perguntas sem resposta (2)

És como um cigarro. Eu sei à partida que fazes mal, que prejudicas a minha saúde, mas insisto. Por breves momentos sabes-me tão bem. Acalmas-me. Mas eu sei que és prejudicial. Que podes matar. És igual a um cigarro. Já tentei deixar de fumar mais de mil e uma vezes. E mil e uma vezes volto de novo ao vício. É o vício de boca, de pele, de toque, de hábito, de sei lá o quê…porque eu gosto.

Não sei como certas coisas podem ser mais fortes que eu. Que raio de hipotálamo é o meu?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Perguntas sem resposta (1)

Porque é que imobilizamos em certas pessoas, lugares ou situações? Devíamos parar para pensar um pouco nisto todos os dias. Devíamos parar para pensar, de forma a que possamos então seguir em frente, para nos soltarmos do que nos faz permanecer onde não sabemos se queremos ficar.

Mas será que queremos continuar no mesmo sítio por conforto ou habituação? Ou será que temos medo de dar o passo em frente no desconhecido? Não sei nem tenho respostas para estas questões. Gostava de achar a resposta certa porque sinto que estou detida e não sei libertar-me.
Será que não quero libertar-me? Será que estou bem onde estou? Não devo estar porque sinto que tenho de mudar alguma coisa. Só não sei como nem para onde. Mas estarei a fugir porque perdi a coragem para lutar? Ou estarei simplesmente a dar o passo em frente, a mudar para algo que está à minha espera, que está reservado só para mim?

E se eu finalmente imobilizei na situação, no lugar, na pessoa, certa? Afinal qual destas variantes está errada? Afinal qual delas está certa? Afinal qual delas devo preservar? São muitas perguntas e não tenho respostas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Relíquia da Internet


Por mão do amigo Jorge Lemos, no seu blog "O que eu penso" recebi o prémio "Relíquia da Internet", a quem agradeço a distinção. Agradecimentos também ao autor do prémio, Rogério Neves, e ao seu blog "Marcha do Vapor".

Dando seguimento às regras, ofereço a distinção aos blogs:

http://gandaragaspar.blogspot.com/
http://vocesses.blogspot.com/
http://tennisresultados.blogspot.com/
http://portugaldospequeninos.blogspot.com/


Cada um dos cinco blogs que escolhi deve passar o selo (Imagem) a mais cinco blogs.

Para mais informações sobre as regras consultar o blog http://marchadovapor.blogspot.com/

domingo, 3 de janeiro de 2010

Já não é verão

O carro parado. A janela aberta. O som do mar. O chiar dos pneus. As vozes dos passeantes. O livro aberto. A música do rádio. Os gritos das gaivotas. A chuva no pára-brisas. O vento a cantar pela fresta da janela. As nuvens cinzentas. Os candeeiros alinhados. A praia deserta. Os carros estacionados. A placa de sinalização a piscar. A página 11 do livro. As casas desertas. O sol entre as nuvens. As ondas em séries perfeitas. Um cão a cheirar o muro. O telemóvel não toca.

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O ar sabe a verão. O mar tem a cor de verão. A areia nos pés lembra o verão. A minha pele respira verão. Sinto no corpo as manhãs de brisa suave que mais tarde se transformam em tardes de sol escaldante.

Encosto o corpo na barraca abandonada junto à praia. Volto a cara para o sol como um girassol à procura de cada raio redentor do astro quente. O som do mar acalma a devastação interior que me consome. As nuvens desenham formas quase humanas no céu azul.

O mar assemelha-se a prata reluzente. Lambe as rochas presas na areia, as rochas que se deixam descobrir aos poucos e poucos, depois de cada série perfeita de ondas repletas de espuma alva. Dois ou três barcos quebram a linha perfeita do horizonte. As vozes dos transeuntes sobrepõem-se ao som pacífico do mar. Um cão corre louco pela praia deserta. Afinal não estou sozinha e outros sons vêm quebrar a minha languidez de início de tarde.

Tiro os óculos escuros e fecho os olhos. Deixo o sol escaldar na minha face. Agora só vejo tudo vermelho, laranja, pontos de luz difusos. Abro os olhos e está tudo na mesma. Volto a fechar os olhos porque quero voltar a ver tudo rubro. Rubro a cor da minha alma.

Apetece-me estender o corpo na plataforma carunchosa da barraca abandonada. Deixar-me adormecer sem hora marcada para acordar. Acordar mais tarde, muito mais tarde, e esperar que ainda esteja tudo no mesmo lugar. O mar de prata, a areia molhada, o cão a correr, a mulher que rói uma maça sentada no muro de pedra, o pescador ao fundo, os barcos que cortam o horizonte, as nuvens fofas.

Agora observo a serra do meu lado direito. Os prédios de alturas inconstantes do meu lado esquerdo. E deito-me na plataforma carunchosa da barraca. Abandono-me aos raios de sol. Abro os olhos e quero acender um cigarro. Mas estou em pausa e é favor não mexer.

Um velho na praia olha para mim. Mas eu estou em pausa. Por favor não mexer. A vontade de fumar é a mesma. É favor não mexer. Encosto-me de novo na barraca de olhos semicerrados. A luz encandeia. Sou só eu e o som do mar e os passos das pessoas e o chiar dos pneus no alcatrão ressequido.

O cão que não é meu vem para junto de mim. Acaba com o meu torpor e dolência. Faço-lhe uma festa no lombo quente e ele deita-se ao meu lado. Parece pertencer aquele cenário desde sempre. Não mexe. Está em pausa.

Decido-me finalmente pelo cigarro. O isqueiro não funciona. Uma, duas, três vezes e tento mais uma vez. A chama aparece e acendo o cigarro. Quebro a pausa. Já posso mexer-me. Sempre o mesmo movimento. A mão com o cigarro até à boca seca e depois o braço morto junto ao corpo. Sempre o mesmo movimento até que o cigarro se consuma. Movimentos ritmados. Cigarro para a boca. Braço ao longo do corpo. Fumo a sair da boca. E volta tudo ao início.

Não sinto nada. Não sabe a nada. Apago o cigarro a meio. Esmago-o na madeira carunchosa. A beata voa impelida por uma ligeira brisa que começa a soprar. O cão que não é meu continua em pausa. Observo os movimentos da sua respiração. Não abre os olhos. Deixa-se estar em sossego junto a mim. Somos só duas formas estendidas nas tábuas de madeira.

Levanto-me lentamente porque o corpo não quer obedecer ao cérebro. Ou será o cérebro que não quer obedecer ao corpo? Dou um impulso e fico de pé. O cão acorda. Corre para a praia. Agarro nas minhas coisas e dou alguns passos. Salto o muro.


Já não estou em pausa.