quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Combustão interna

Tenho sede. Sinto muita sede. Nada alivia este sintoma de sede. Sinto-me a ferver por dentro, mas o corpo está gelado. Bebo e não muda a minha sede. Tenho medo de desidratar, arder e reduzir-me a cinzas num fogo intenso que o corpo exterior não confessa. No chão a garrafa de água. O copo na mesinha cabeceira. Na cama o corpo. A alma junto a ti.

Está vento lá fora mas o sol promete ardência. A janela aberta para poder fumar cigarros e mais cigarros. O aquecedor que já deveria ter arrumado no sótão está ligado junto aos pés descalços. Fumo um cigarro enquanto escrevo no computador. O pequeno rádio sintonizado numa estação qualquer solta músicas que nem deveria estar a ouvir porque não gosto delas mas hoje soam bem.

Dentro do café poucas mesas com gente. A esplanada está cheia. Sinto muito frio e só consigo estar entre paredes. Concentrada num jogo da máquina tento abstrair-me das vozes, do tinir da louça, do desfolhar dos jornais. A mão direita no visor da máquina enquanto a esquerda hesita entre um cigarro e um copo de cerveja. O cigarro talvez aqueça o frio do corpo e a cerveja talvez apague o fogo íntimo.

Os pés descalços no alcatrão. Adoro sentir o alcatrão quente nos pés. Não é só a sensação de liberdade é também o calor que sobe dos pés e invade todo o corpo. Passo a estrada. O contacto com a calçada quente. Depois a areia. Depois o mar frio. Um choque que me faz estremecer de prazer. Atiro a pequena bola de ténis para longe e o cão corre. Deixo-me cair na areia. Olho para o céu.

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