quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Destino

Quando vaticinaram que o meu destino na terra era ajudar os outros e fazê-los felizes, mas que eu nunca o seria, apeteceu-me sorrir, mas ao mesmo tempo senti uma pontada de dor no coração. Pensei que a cartomante estava a brincar comigo.

Agora sei que ela estava a dizer a verdade. Eu sei sempre como atenuar a dor alheia, mas não consigo encontrar paz para a dor que é a minha vida. Sinto a minha vida vazia, triste e sem qualquer sentido. Sei sempre qual a palavra certa para cada pessoa que me procura, sei sempre cada acção que vai resolver cada problema alheio. Só não sei como dar rumo a minha própria vida.

Deixei que entrasses de novo na minha vida, quando já não esperava nada. Prometi a mim mesma jamais permitir que me magoasses outra vez. De que valem as promessas quando não as conseguimos cumprir. Devia ter percebido que não ia ser diferente desta vez, mas o meu alarme de perigo voltou a falhar e eu deixei-te entrar de novo nos meus domínios. Entraste de mansinho, tão devagar que nem dei conta que já estavas cá dentro. Deveria ter deixado a porta encostada, mas ela fechou-se como que impelida por uma ligeira brisa de verão.

Entraste de mansinho e saíste subitamente, sem dar tempo para me habituar à circunstância. Mas desta vez deixaste marcas mais profundas. Passámos demasiado tempo juntos, trocámos demasiadas experiências e segredos, deixámos demasiados vestígios nos nossos corpos. Deixaste-me a lamber as feridas sozinha e tu voltaste a seguir o teu caminho como se nunca tivesses estado aqui.

Agora quero abrir a porta e tenho medo de sair, de dar um passo em frente, de voltar a ver o mundo lá fora. Agora vou deixar que a campainha toque até se cansar, vou fingir que não ouço nada. Vou esconder-me bem agachada num canto qualquer, vou aparentar que não estou cá. Vou fechar a porta que escancaraste e depois bateste com toda a força.

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