segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A tua grande dúvida

Apareceste do nada. Leve e discreto como uma brisa suave. Nem consigo lembrar-me de onde e quando apareceste. Limitaste-te a aparecer. Não houve música à tua chegada, nem foguetes. Não houve passadeiras vermelhas nem focos de luz apontados. Não houve qualquer indício nem qualquer premonição.

Não, não fazias nada o meu género. O teu ar divertia-me e a forma como me olhavas chegava a aborrecer-me. É verdade. Aparecias em todo o lado e em lado nenhum eu te esperava. Mas tu chegavas sempre.

Mas um dia ganhaste. Ganhaste a minha atenção por alguns momentos. Achei piada a tua persistência. Ou então estava para aí virada nesse dia. Eu sou mesmo assim. Olhei-te nos olhos, bonitos até. No teu cabelo, a fazer lembrar um boneco de desenhos animados, apeteceu-me colocar as mãos e despenteá-lo, não sei porque. Fiquei impressionada comigo.

Depois fui eu que comecei a procurar o teu olhar. A procurar em ti o que me chamava a atenção, sem nunca conseguir chegar a qualquer dedução lógica para o caso. Acho que nessa altura deves ter ficado baralhado com a minha mudança de atitude. Eu também estava baralhada com a situação pois não conseguia perceber o que se estava a passar comigo. Os nossos olhares cruzaram-se mil vezes, em mil alturas, em mil lugares.

De repente começava a pensar em ti. Até sorria ao pensar em ti. Acho que cheguei a adormecer a pensar em ti. Eram os sinais de perigo para mim. O alerta vermelho. A ameaça. Não quis saber.

Quando começamos a falar, naquele dia, achei-te piada, mas não quis avançar por demais. Fui antipática acho eu. Mas eu sou assim. Deixo sempre por dizer o que talvez poderia ou deveria ter dito. Deixei-te ali especado e fui-me embora num repente.

Porém, um dia acabei por cair nos teus braços e senti a paz e a calma que procurava há tanto tempo, mas também a tormenta de perceber que algo estava para acontecer. Rendi-me ao teu carinho e a tua falta de jeito, ao teu sentido de humor e delicadeza. Mas eu sentia que alguma coisa estava errada.

Agora sei o que estava mal, e estamos definitivamente mal. Não explicas muito bem e eu também não pergunto mais. De repente somos dois estranhos e as poucas palavras que trocamos separam-nos como um oceano separa dois continentes. Qualquer coisa que digas eu levo a mal. Tudo o que digo é propositado para magoar. Não me conheces. Não deixo que me conheças. Fingimos que não aconteceu nada. Estamos num impasse. Tu até tentaste explicar qualquer coisa, certas coisas, como tu próprio disseste. Mas eu não quis ouvir tudo até ao fim. Fiquei bloqueada e saltei fora das tuas indecisões e das tuas perguntas sem sentido.

Afastas-te e eu afasto-me. Já não te procuro. Tu não me procuras. Não sei o que pensas. Não te digo o que penso.

Sei que vais encontrar um amor na tua vida e que serás feliz. Eu estou feliz porque sei que ainda me procuras com o teu olhar e que algures dentro de ti ainda está a minha imagem. Não vai ser fácil apagar o meu vulto, porque eu vou estar sempre em alguma parte. Ela poderá ser o teu grande amor, mas eu serei para sempre a tua grande dúvida.

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