sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Do jeito que tu me olhas (1)

Às vezes quero lembrar-me do teu rosto, quando estou sozinha à noite no meu quarto, e não consigo. Então começo a recordar o teu nariz com uma ligeira curva, o teu sorriso aberto, o teu cabelo sempre desalinhado mesmo que o tentes domar com uma fita ou a despontar por onde pode de dentro de um boné, o jeito como os teus olhos pequeninos e escuros olham para mim. De repente ali está o teu rosto.

Logo a seguir tento lembrar-te por inteiro. Penso na forma como colocas o pé de lado quando estás distraído, a maneira como arqueias as pernas e colocas as mãos nos bolsos das calças ao mesmo tempo que curvas as costas e olhas para as sapatilhas quando estás a conversar. De repente ali estás tu mesmo à minha frente.

Tu não sabes mas o teu olhar faz-me bem e eu também olho para ti. Gosto de olhar-te disfarçadamente enquanto tu olhas para mim sem qualquer discrição. Observo-te sempre de longe à espera que olhes para mim daquele jeito que ainda não sei o que quer dizer mas que me deixa em sobressalto. E tu acabas sempre por olhar.

Tu não sabes mas às vezes dou por mim à tua procura. E quando acabo por encontrar-te não sei o que fazer. Na maior parte das ocasiões faço que não te vejo. Mas noutras alturas vou ter contigo e falo de coisas banais. Claro que não podes adivinhar que quando falo de coisas banais é porque quero dizer outra coisa qualquer mas não sei ou não consigo expressar.

Tu não sabes, e eu também não, porque gosto tanto do jeito que tu me olhas.

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