terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Era uma vez...

Era uma vez uma princesa que vivia sozinha numa estrela. Na sua estrela só tinha um castelo edificado de raios de luz e pequenos cristais de fogo e um baloiço feito de ruínas de meteoros. Todos os dias eram iguais no seu pequeno reino. Ali não existia manhã, tarde ou noite, só uma luz inalterável.

A princesa passava os seus dias a embalar-se no seu baloiço. Pensava muito entre o vai-e-vem do seu baloiço e sentia uma grande dor no peito à qual não sabia dar um nome. Quando se sentia cansada de balançar passeava pela sua estrela. Dava muitas voltas sem nunca se afastar muito das redondezas do seu castelo. Ainda não conhecia todo o seu reino porque tinha muito receio de se afastar do que já reconhecia.

Mas um dia a dor no peito foi mais forte e encheu-se de coragem. Saltou do seu baloiço e começou a caminhar com confiança muito para lá do seu castelo. Estava disposta a conhecer os seus domínios por completo.

Andou, andou muito, andou até sentir o seu corpo cansado. Então sentou-se num cantinho da sua estrela e sentiu saudades do seu baloiço e do seu castelo, únicos companheiros que conhecia desde há muito. Até ali a paisagem tinha sido toda igual. Uma vasta superfície iluminada sem qualquer surpresa. Desolada, encostou a sua cabeça nos braços, estendeu o corpo e adormeceu. Enquanto dormia sonhou com outras estrelas onde princesas como ela não viviam sozinhas e não sentiam dores no peito.

Quando acordou continuava a sentir a mesma dor. Levantou-se e encheu-se de nova audácia. Não podia desistir aos primeiros ataques de cansaço e de saudades do seu pequeno reino conhecido.

Caminhou durante muito tempo ate chegar a um precipício. Parecia ter chegado ao final da sua estrela. Ao princípio teve medo de espreitar o que estava para lá do precipício mas depois encheu o peito de ar e pensou que tanto tempo a caminhar tinha que valer alguma coisa e o medo não a poderia travar nos seus intentos. Ao mesmo tempo que se abeirava do grande buraco ouviu uma voz.
- Olá. Quem és tu?

A princesa sentiu muito medo e recuou alguns passos. A voz parecia estar presa na sua garganta e sentia o corpo todo a tremer. Precisou de alguns minutos para se recompor. Voltou a ganhar coragem e decidida espreitou para baixo. Nem queria acreditar no que estava a ver. Numa pequena estrela muito parecida com a sua, mas muito mais pequena, estava um rapazinho sentado num pequeno baloiço muito parecido com o seu, mas feito de cordas. Enquanto se baloiçava cantava numa voz muito melodiosa. Pareceu-lhe tão agradável aquele momento que não teve coragem de o interromper. Mas o rapazinho deu logo pela sua presença.

- Olá. Eu sou o príncipe e dono absoluto desta estrela. Vivo aqui sozinho há muito tempo. E tu quem és?
- Olá. Eu sou a princesa e dona absoluta desta estrela.
O silêncio fez-se sentir depois do curto diálogo. Ficaram a sorrir um para o outro. A princesa sentou-se na beira do precipício e o príncipe continuou a balançar-se no seu baloiço. Depois falaram durante horas e horas e mais horas. A princesa contou-lhe tudo sobre a sua estrela e o príncipe contou-lhe tudo sobre a sua estrela. Mais tarde depois de já conhecerem as suas histórias ficaram tristes. Perceberam que estavam separados por um grande espaço e que não poderiam ficar toda a vida daquela forma: a princesa sentada na beira do precipício e o príncipe a baloiçar-se a olhar para cima.

Então começaram a pensar numa forma de se juntarem numa das estrelas. Cada um tentou demonstrar porque é que a sua estrela era o melhor local para viverem juntos e tiveram a primeira discussão desde que se conheciam. A princesa triste virou as costas ao príncipe e afastou-se do precipício indo-se sentar junto a uma pequena rocha. O príncipe saltou do baloiço e foi para o seu pequeno castelo.

Não conseguiram descansar nem dormir durante muito tempo. Pensaram, pensaram muito, porque nenhum queria afastar-se do seu pequeno mundo mas queriam muito ficar juntos para jamais se sentirem sozinhos e com aquelas estranhas dores no peito.

De repente a princesa pensou que o maior problema não era afastar-se da sua estrela mas sim o modo como poderiam juntar-se numa das estrelas. Ela não sabia como poderiam executar tamanha tarefa pois as estrelas estavam muito separadas e tanto ela como o seu novo amigo não tinham forma de se deslocarem. Decidida levantou-se e dirigiu-se para o precipício. Quando olhou para baixo viu que o príncipe se baloiçava tristemente no seu baloiço olhando insistentemente para cima.

Acenaram os dois ao mesmo tempo e os seus rostos iluminaram-se com grandes sorrisos de alegria. Voltaram a falar durante muitas horas sem conseguirem arranjar uma solução para o grande problema. Mas passado muito tempo o príncipe teve uma grande ideia. Ele poderia retirar as cordas do seu baloiço para poder escalar até junto da princesa. Ela concordou logo com a ideia pois tinha muito medo de ter que ser ela a descer. Mas surgia assim um novo problema: onde atar a corda de forma segura?

Os seus rostos e os seus corações voltaram a encher-se de tristeza. A princesa sentia vontade de chorar e o príncipe começava a perder a esperança. E é num desses momentos de tristeza que a princesa se lembra da rocha onde durante tantas horas esteve encostada a pensar na sua vida. De certeza que seria um bom suporte para atar a corda.

Metem mãos ao trabalho e passadas algumas horas o príncipe consegue desmanchar o seu baloiço e atirar a corda para as mãos da sua nova amiga. A princesa com muito cuidado enrola a corda na pequena rocha e prepara-se para ajudar o príncipe na sua subida.

Quando se encontraram frente a frente estavam tão cansados que mal conseguiram falar. Então deram as mãos e começaram a caminhar determinados, já sem sentirem qualquer dor no peito ou tristeza. Agora teriam todo o tempo do mundo pois já não estavam sozinhos.

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