quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Overdose

Existem coisas que não devemos desejar. Existem coisas que não devemos experimentar. Existem coisas que devemos deixar para os outros. Existem pessoas assim. Existem pessoas que são o nosso veneno, doce veneno. Bebemos às gotas, em pequenas porções, na esperança de nos tornarmos imunes. Mas na realidade ficamos embriagados e nunca imunes. Percebemos que é fatal mas mesmo assim aumentamos a dose a cada dia que passa.

Tu és o meu veneno. Nunca deveria ter-te desejado. Nunca deveria ter-te experimentado. Deveria ter-te deixado para os outros. Tu és o meu veneno, doce, embriagante, fatal.

Se me perguntares como tudo começou acho que não vou conseguir explicar-te. Ridículo, dirias tu. Ridículo, essa expressão que ouvi tantas vezes da tua boca. É ridículo, mas é a verdade. Mas se perguntares se eu sabia como iria acabar é mais fácil. Eu sabia que estávamos condenados. Porém isso não me travou a vontade de provar o sabor do teu veneno. Estávamos condenados porque a luta entre o veneno e o envenenado tem que ter um fim. Ou cessa o veneno ou sucumbe o envenenado.

Tu cessaste, foste embora, eu sucumbo, não ao teu veneno mas ao ritmo da longa ressaca que a tua ausência me provoca. Os restos do teu veneno ainda percorrem o meu corpo mas o que resta não acalma o meu desejo. Sinto uma febre que escalda, os meus olhos ficam baços, a boca seca, tremores e suor percorrem o meu corpo, não consigo dormir.

Se ao menos eu pudesse provar só mais uma vez. Só mais uma. Estou a suplicar como um drogado que pede a ultima dose antes de uma desintoxicação. Não podes recusar. Depois deixo-te partir. Depois afasto-me. Depois desenveneno-me de ti.

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