sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eu estou aqui (5)

Sai do bar e entra no carro para procurar os amigos que devem estar num outro bar habitual. Olha para o outro lado da avenida e o coração começa a bater mais forte. É ele. Tem a certeza. O carro é igual e é capaz de reconhecer a figura dele mesmo no escuro, mesmo ao longe, mesmo no meio de uma multidão. Vai acompanhado e não consegue perceber com quem. Acelera e dá a volta na rotunda. Não o consegue apanhar. Ele também deu a volta na rotunda contrária. Cruzam-se no mesmo local, mas desta vez de lados opostos. Ele também a reconheceu. Mas ela decide que não vai andar às voltas na avenida e muito menos vai parar o carro. Vai fazer que nem o viu a passar. Acelera ainda mais e desaparece por uma rua secundária. Ele não vai ter tempo para perceber para onde é que ela virou o carro.

Dá algumas voltas pelo centro da cidade sem saber se tomou a decisão certa. Mas agora já é tarde. Volta para a avenida. Os amigos já devem ter chegado ao bar e ele já deve ter ido para casa. Estaciona em segunda fila porque não há lugares vagos. Senta-se na mesa de frente para a rua. Conversa pouco porque tem o pensamento a milhas. Acende um cigarro ao mesmo tempo que o vê passar novamente de carro na avenida. Pode ser uma coincidência. Não acredita que ele ainda ande à sua procura. Depois de tantos dias de silêncio não pode ser verdade. Enquanto está absorvida nos seus pensamentos o carro volta a passar. Passa muitas vezes e começa a ficar nervosa.

A conversa na mesa não passa de coisas banais. Acende mais um cigarro. Quando está a dar um gole na cerveja ele pára o carro mesmo em frente ao bar. Embora ela esteja mesmo de frente para a rua não consegue vê-lo muito bem. Ele esconde-se por trás do amigo que está no lugar do passageiro. As mãos dela tremem e já não consegue disfarçar a ansiedade. Ele não demora mais de um minuto ali parado, mas a ela parece-lhe uma eternidade. Ele põe o carro em marcha e vai embora.

Pega no telemóvel e escreve uma mensagem banal só para o testar. Sabe que ele não vai responder mas isso agora também não lhe interessa nada. Não passa muito tempo até receber o primeiro toque. Logo de seguida recebe uma mensagem. Depois de ler não sabe se deve rir ou ficar preocupada com o que parece uma cena de ciúmes. Recebe um novo toque. Não aguenta e levanta-se da mesa. Vai para a rua e marca o número dele.

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