quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Noites de lua cheia (1)

Vai, vai segredar-lhe ao ouvido que eu estou à espera dele. Diz-lhe que não durmo de tanta solidão. Leva as minhas lágrimas e entrega-lhe em mãos cada uma. Depois regressa e vem dizer-me quem é ele e onde está que não ouve o meu coração.

Diz-lhe também que vou morrendo aos poucos, cada dia, porque é deserto a minha vida. Neste deserto já não nasce o sol, não florescem flores, os animais já não saem das suas tocas, as dunas não mudam de lugar, o vento já não sopra, a chuva não cai, só existe o frio do meu corpo que espera o calor do seu.

Não te esqueças de olhar para mim antes de partir. Leva na tua memória cada pedaço meu para que possas descrever-me, para que ele possa encontrar-me nos seus sonhos, nos seus olhos, no seu coração. Conta-lhe as minhas histórias, conta-lhe as minhas vitórias e as minhas derrotas, as minhas alegrias e as minhas tristezas, conta-lhe que já estou farta de perder e que agora é a minha vez de ganhar.

Quando voltares vem com cuidado para não perderes pelo caminho cada bocadinho dele. Quero guardá-los, colá-los com cuidado como um puzzle, para no fim encontrar o seu todo. Traz os seus desejos, os seus medos, os seus risos, as suas mágoas, os seus segredos, o seu passado, a sua vida. Não descuides cada pormenor porque eu aspiro poder tocá-lo na tua luz.

A ti confesso, nesta noite gelada e infinita, o que não confesso a mais ninguém, porque também tu conheces a dor da solidão e da espera. Tu que todas as noites esperas a manhã e o teu grande amor, mas eternamente desvaneces logo que ele desperta. Mas tu sabes que um dia se encontram, nem que por breves segundos, e guardas em ti essas bruscas memórias até ao próximo e longínquo encontro. Sabes também que ele te espera dessa mesma forma desmesurada que o esperas. Eu não sei.

Vou ficar toda a noite à espera que voltes com a resposta, lua que me guardas nesta noite sem sono, nesta noite que nunca mais acaba.

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