sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Faz amor comigo

E saber que aquele era diferente dos outros? Ela não poderia saber. Estava demasiado empenhada em insistir naquela outra relação algo destrutiva que lhe ia consumindo a alma e o corpo.

Entrou pela porta do consultório de rompante. Sentou-se no colo dele. Apertou a cabeça dele contra o seu peito. Já não aguentava mais e vim-te ver, disse ela com a voz sussurrante. Ele deixou-se estar. Ela sente-se derreter em contacto com o corpo dele. Estreita-se toda nele. Aperta com mais força. Parece querer entrar dentro dele até obter um só corpo.

De cada vez que sai de junto dele não sabe se vem mais cheia ou mais vazia. A sala de espera cheia de mulheres deixa-a louca. Não quer imaginar que as mãos dele, que ainda há pouco a acariciavam, podem estar neste momento no corpo de outra mulher. Sim, ela sabe que é o trabalho dele, mas mesmo assim prefere martirizar o pensamento. Olhou para todas aquelas mulheres e tentou achar um qualquer indício nos seus olhares.

A graça dos encontros furtivos começa a empalidecer. Ela quer mais, quer sempre mais. Será que é pedir muito? E se ele não puder dar mais do que tem dado até agora? Será o fim? Se a relação não fosse como é será que ela gostaria dele da mesma forma desmedida?

Enquanto conduz vai ouvindo aquela música. Mas como é possível ouvi-la tanta e tanta vez sem se cansar. Sabe a letra de cor, mas de cada vez que a ouve consegue perceber outra e mais outra coisa. Ela nem gosta da música. Acaba a faixa. Mas volta a repeti-la. É só mais uma vez. É a ultima. E pensa nele. Esse outro que às vezes lhe invade o pensamento. Pára o carro junto ao mar. A música continua. O telemóvel toca.

Agora vai dizer-lhe que não. Tem que ser. Olha para o telemóvel. Lê a mensagem mais uma vez. Depois escreve aquelas palavras que sabe que não sente. Tem que ser. De noite não vai correr para ele. Sente o coração apertado. Sabe que não vai conseguir dormir porque hoje vai dizer-lhe que não. Vai inventar uma desculpa qualquer, mas que magoe. É preciso magoar. Sempre ouviu dizer que é a dor que nos faz sentir vivos.

Olha para o telemóvel mais uma vez. Vai enviar aquela mensagem que já imaginou um milhar de vezes. Vai responder àquele outro homem. Nunca deixou que ele se aproximasse o suficiente. O carinho que o seu olhar lhe transmite deixa-a baralhada, porém não consegue entregar-se. Se calhar também não vale a pena perder tempo a pensar nisso. Mas ela pensa. Pensa muito. Pensa sempre demasiado nas coisas. Pensa que com ele poderia ser diferente. Pensa nessa entrega que tem negado dia após dia. Pensa nas últimas palavras que ele lhe sussurrou ao ouvido: Faz amor comigo.

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