sábado, 28 de novembro de 2009

A noite

Desisto. Desisto e pronto. Não é dos desistentes que reza a história, ma também nunca quis fazer parte dela. Estou decidida e desisto mesmo. Fartei-me de tentar. Fartei-me de tentar ser como as outras pessoas e ter uma vida normal. Na verdade eu nunca fui normal e muito menos me regi pelas regras consideradas normais pela maior parte das pessoas.

Sou diferente, eu sei que sim. Se isso é bom ou mau não sei muito bem. Tenho dias em que desejo ser normal e ser feliz com a mais ordinária das vidas, mas não sou assim tão linear. Afastei-me sempre a tempo de cair numa vida banal. Mas tenho dias que invejo os que são felizes nas suas vidinhas vulgares, nas suas vidinhas tão bem aceites pela sociedade.

Olho-me ao espelho e já não sei o que vejo ou quem vejo. Gostava de ver uma pessoa interessante e determinada, mas não consigo. Já não consigo. Tenho medo de um dia olhar para o espelho e ver que me tornei numa pessoa cáustica, sem ideais, sem sonhos. Perdi a capacidade de amar e de ser amada. Perdi a capacidade de me amar. Perdi a capacidade de acreditar que sou capaz de mover montanhas. Perdi-me simplesmente.

Tenho dias em que penso que tudo vai mudar, que vou conseguir chegar a algum lado, mas fico sempre a um passo de qualquer coisa. Depois sinto a dor da perca de algo que não sei bem o que era, mas devia ser qualquer coisa.

De repente sinto-me perdida e sem uma causa porque lutar. De repente sinto-me sozinha. De repente não sou assim tão forte. De repente percebo que tenho medo. Tenho medo de falhar, de ouvir eternos nãos, medo de não conseguir, medo até do próprio medo.

Há noites assim, em que não conseguimos dormir e de repente estamos mais lúcidos, como se algo despoletasse no nosso cérebro. Nunca há manhãs assim, porque de manha não conseguimos parar para reflectir. A manhã é sempre um começo ou um recomeço. Mas a noite pode ser muito longa para quem não consegue adormecer e o tempo corre devagar e os pensamentos são velozes. Não sonho durante a noite mas medito e chego a conclusões e vejo tudo mais real.

Não vale a pena tentarem demover-me agora que sei que quero desistir. Nada pode fazer-me desistir de desistir. Desisto, não sei bem de que, mas desisto.

No fundo desisto de quê? Talvez de mim.

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