segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O empregado

- Sabem o que me apetece? Enviar-lhe uma caixa com dois tomates maduros.
- Bem, não há melhor prenda para um homem sem tomates. Eu também detesto um homem sem tomates!
- E vais enviá-los simétricos? Acho mal que o faças. Há sempre um mais vazio que outro.
- Não concordo. Não envies os tomates. Atira-os congelados a cabeça do senhor que dói mais.
Soltam-se as gargalhadas na mesa do café. Os clientes olham o grupo das quatro mulheres com curiosidade.
- Mas o que me chateia mesmo é aquele ar de quem acha que está tudo bem. Enfim, haja paciência.
- A paciência é uma virtude.
- Tem dias. Eu não sou dada a paciência. Eu já tinha armado uma daquelas escandaleiras…
- Estás parva! Nunca! Eu começo a achar que sou perseguida por homens sem tomates. E o meu destino minhas amigas.
- E olhem que o destino é uma coisa do caraças.
- Vem aí o empregado metediço. Caluda meninas.
- Olha que ele até é bem giro.
- Por favor!
O empregado aproxima-se da mesa. Traz os cafés. Olha para as quatro mulheres que recomeçam a rir e sorri também. Todos os dias aparecem à mesma hora e pensa que devem vir directas do trabalho. Às vezes ouve pedaços das suas conversas. O assunto é sempre o mesmo: homens. Nunca tinha imaginado que as mulheres pudessem falar assim dos homens. Às vezes coloca-se perto da mesa delas e deixa-se estar só para as ouvir.
- Estou decidida a deixar o meu gajo de vez. Estou farta de esperar que ele mude. Ele nunca vai entender-me.
- Desde o início dessa relação estúpida que te ouço a dizer que o vais deixar. Acho que nunca o vais conseguir minha amiga. Desculpa a franqueza!
- Consigo sim! Há quanto tempo não ligo para esse camelo? Estou a aguentar-me. Apetece-me cortar as mãos para não cometer um disparate, pegar no telemóvel e zumba ligar.
- Eu se fosse a ti começava a mandar umas pestanadelas ao outro. Depois de tudo o que este te fez é caso para o mandar passear. Olha que o outro está mesmo à espera de um sinal teu.
- Não sei. Tenho dias em que penso no caso. Mas depois ele liga-me, vou ter com ele e o caldo fica entornado. Só de me tocar ao de leve sinto-me a queimar por dentro. É mais forte do que eu.
- Só o olhar dá cabo de nós não é? Eu sei como é! E quando o sexo é bom pior ainda!
- Mas não é o sexo que me dá saudades. Saudades sinto daquele carinho que vem depois do sexo. E ele é bom nisso e acho que nem se apercebe da coisa. Juro!
- Se os homens sonhassem que são as pequenas coisas que dão cabo da nossa resistência, não se esforçavam tanto com os jantares caros, os presentes, os carros velozes e por ai fora.
- Burros, são uns grandes burros! Essa é que é a verdade.
- Não. Burras somos nós. Já viram como acabamos sempre a porra das nossas tardes?
- A falar deles, claro!
Recomeçam as gargalhadas na mesa. No café ninguém consegue ficar indiferentes às quatro mulheres que não param de falar e rir. O empregado olha para elas com curiosidade e pensa que os finais de tarde já não são os mesmos quando elas não aparecem. Daqui a pouco estão a pedir uns finos e pode jurar que vai ser já.
- Um brinde a nos?
- Pede aí as cervejolas ao rapaz.

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